1 Pedro 1:1-9
No ano 64 d.C., uma grande parte da cidade de Roma foi queimada. Alguns acreditavam que o imperador Nero era o responsável, tentando abrir espaço para seus projetos de construção.
Enfrentando tais acusações, o próprio Nero acusou um grupo de pessoas já vistas com suspeita pelo público em geral, os cristãos.
Durante mais ou menos o mesmo período de tempo, os judeus da Palestina se rebelaram contra os romanos. Essa rebelião tornou-se uma guerra, no ano 66 d.C., que terminou com a destruição de Jerusalém e da nação judia.
Ambos eventos resultaram em perseguição aos cristãos. Nero perseguiu os cristãos em Roma veementemente e foi provavelmente o responsável pelas mortes de Pedro e Paulo.
Alguns cristãos sofreram devido ao conflito entre os judeus e os romanos, porque estes freqüentemente não faziam distinção entre aqueles judeus que eram cristãos e aqueles que não eram.
O apóstolo Pedro escreveu sua primeira epístola durante este período. Ele entendia que muitos cristãos iriam enfrentar severa perseguição.
Seu propósito era advertir seus leitores contra a tribulação iminente e encorajá-los a permanecerem fiéis durante esses tempos difíceis.
O que poderia Pedro escrever àqueles cristãos espalhados através da Ásia Menor que pudesse capacitá-los a suportar a feroz tempestade de perseguição?
Pedro decidiu começar salientando as bênçãos espirituais gozadas por seus leitores (1 Pedro 1:3-12).
Pedro fala de uma viva esperança, uma herança celestial que ele descreve em termos negativos (incorruptível, sem mácula, imarcescível) porque não há nada neste mundo comparável ao esplendor do céu (1:3-4).
Pedro ainda destaca o privilégio especial de seus leitores, observando a salvação que eles receberiam na revelação de Jesus Cristo (1:5,9).
A fé deles, testada pela perseguição, era mais preciosa do que o ouro refinado pelo fogo e resultaria em louvor, glória e honra quando Jesus retornasse (1:7).
Nem mesmo profetas do Velho Testamento, que falaram das bênçãos espirituais que acompanhariam a morte de Cristo, não gozaram a abençoada posição destes cristãos (1:10-12)!
Em vista de tais bênçãos espirituais, Pedro manda que seus leitores preparem suas mentes e esperem a graça que receberão no futuro (1:13).
Além disso, eles precisavam buscar a santidade através da obediência que é adequada àqueles que foram redimidos pelo inestimável sangue de Jesus Cristo (1:14-19).
A esperança cristã da glória repousa no fato que Deus ressuscitou Jesus dos mortos (1:21).
Antes de entrarmos no conteúdo geral, queremos ver a introdução e saudação de Pedro, pois aqui encontramos um assunto controverso entre calvinistas e arminianos.
Vejamos o verso 1 e 2
Quanto ao verso primeiro, não há dúvida quanto à autoria de Pedro. O autor se identifica como "Pedro, Apóstolo de Jesus Cristo" (1Pedro 1:1).
Que ele é o bem conhecido apóstolo dos Evangelhos e de Atos é confirmado tanto por evidências internas como externas. O autor descreve a si próprio como testemunha dos sofrimentos de Cristo (1Pedro 5:1),
Agora, aqui no verso 2 encontramos uma palavra que é usada pelo Arminianismo para refutar a predestinação absoluta.
O Argumento da Presciência.
Segundo este ponto de vista, “Deus escolheu uns porque via de antemão quem seriam as pessoas que iam obedecer e crer”. Os que sustentam este ponto de vista se baseiam em dois versículos:
“...eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito para a obediência...” (1 Pe 1.2).
“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conforme à imagem de seu Filho...” (Rm 8.29).
Estes versículos poderiam defender, numa primeira análise, a posição oposta à predestinação, porém contrariamente a defende.
É necessária uma pergunta para resgatar o sentido real dos textos bíblicos: O que Deus previu nos homens?
1. não pode ser a fé porque ela se baseia na predestinação: “...e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.48).
A fé é, além disso, fruto da graça de Deus: “...aqueles que mediante a graça haviam crido” (At 18.27). Sobre isto comenta Agostinho:
“O homem não é convertido porque deseja, mas só deseja porque é ordenado pela eleição”.
2. Não podem ser boas obras. (Deus eleger por que o homem faria algo digno da salvação) Em Efésios 2.10 lemos que as boas obras foram predestinadas do mesmo modo que as pessoas que as executam. As boas obras se baseiam na fé e a fé na predestinação.
3. Não pode ser a boa vontade porque a vontade do pecador não é boa: “Não há quem entenda. Não há quem busque a Deus” (Rm 3.11).
Em vista da depravação e rebelião do homem, não existe nenhuma qualidade boa no pecador para ser prevista.
Que significa a palavra “presciência” [4] nos versículos citados?
A palavra grega traduzida “presciência” é proginosko, e significa também “pré-ordenado”. Nos versículos citados, a obediência é mencionada como resultado da presciência e não a causa dela.
Disse Pedro: “...para obediência” e não “...por obediência”.
Paulo também expressa em Romanos 8.29 “para serem” e não “porque viu que eram”. Estes dois versículos, então, servem como apoio à Predestinação em lugar de refutá-la.
É interessante que em 1 Pedro 1, o apóstolo usa esta mesma palavra proginosko relacionado com a vinda de Jesus e se traduz como “conhecido... antes”, (v.20); “...conhecido com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempo...”.
Seria absurdo dizer que Deus o Pai simplesmente “previu” que Jesus viria. Da mesma forma se vê em Atos 2.23: “...sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus...” É a mesma palavra encontrada e, 1 Pe 1.2 - proginosko.
Fica claro que a palavra “presciência” significa “pré-ordenado”, “conhecer antes”, “escolher de antemão”, “demonstrando a natureza da atividade de Deus entre os homens ”. Essa palavra apóia, e não refuta a Predestinação.
É interessante que nas Escrituras não existe nenhuma concordância entre eleição e o conhecimento prévio que Deus tem da reação da pessoa.
Compreendendo essa questão analisaremos aqui o verso 3
Pedro bendiz ao Senhor Deus, Pai de Jesus Cristo, porque Ele, olhando um dia para o estado de extrema miséria no qual nos encontrava-mos, gerou-nos outra vez, fazendo-nos uma nova criatura.
A velha criatura foi uma vez gerada, mas pelo pecado envelheceu sem a graça de Deus.
A nova criatura, contudo, foi gerada mediante a ressurreição de Cristo, pela graça, para uma vida nova, que aguarda esperançosamente a revelação de Jesus Cristo.
A nova criatura foi criada para a vida. Qual é pois a diferença?
A graça de Cristo, revelada e operada a partir de Cristo e, retroativamente, naqueles que creram em Deus, tendo por certos a vinda, o padecimento, a morte e a ressurreição do Messias.
O versículo 3 diz que Deus "nos gerou de novo". Uma pergunta a ser feita é: "Deus nos gerou porque nós quisemos ser gerados outra vez, agora para a salvação, ou por obra apenas e unicamente de Deus, como na primeira criação?"
Como Deus, no princípio, a tudo criou pela sua própria vontade e para louvor de seu nome, assim criou a nova criatura por sua vontade.
A nova geração deu-se pela "grande misericórdia de Deus". É impossível o homem ter escolhido ser gerado novamente, porque, tornado cego pelo pecado, não via a sua situação e não buscava a Deus.
Auto-gerar-se é ainda mais descabido, visto o fato do homem não poder criar nada, não tendo criado, logo, a si próprio na primeira criação. Gerar o homem novamente já estava em Deus desde a eternidade.
Mas nem todo o ser humano é nova criatura, porque o novo nascimento não é para todos, mas aqueles aquém Deus instila a fé na ressurreição de Jesus Cristo, a qual fé é dada mediante a graça de Deus.
Ef 2;8 pela graça sois salvos por meio da fé, isso não vem de vós é dom de Deus.
O indivíduo ouve a palavra de Cristo e o Espírito Santo lhe faz enxergar a verdade, tendo Deus escolhido os seus eleitos antes do princípio. Como vemos no verso 2
1. Nascer de novo — isto é o que a regeneração significa (veja Jo 3.3, 7; 1 Pe 1.3, 23). Esta expressão supõe um nascimento anterior, um primeiro nascimento, em relação ao qual a regeneração é o segundo.
Se observarmos a diferença entre os dois nascimentos, os conceitos ficarão mais claros.
Esses nascimentos são opostos entre si: o primeiro vem de pais pecadores e acontece à imagem deles; o segundo vem de Deus e acontece à imagem dEle.
O primeiro é de semente corruptível, o segundo, de incorruptível.
O primeiro acontece em pecado, o segundo, em santidade e justiça. Por meio do primeiro nascimento, os homens são corrompidos e depravados; pelo segundo, eles se tornam consagrados e começam a ser santos.
O primeiro nascimento é carnal; o segundo é espiritual, transformando os que passam por ele em homens espirituais.
Por meio do primeiro nascimento, os homens são loucos e insensatos; nascem como animais irracionais.
Por meio do segundo nascimento, eles se tornam instruídos e sábios para a salvação.
Por meio do primeiro nascimento, eles são escravos do pecado e das paixões carnais: sua condição de escravo é inata.
Por meio do segundo nascimento, eles se tornam os libertos por
Cristo.
Por meio do primeiro nascimento, eles são transgressores e seguem um caminho de pecado, até que são interrompidos pela graça.
No segundo nascimento, eles param de cometer pecados, isto é, param de seguir o caminho de pecado, passando a viver em santidade. Sim, aquele que é nascido de Deus não vive em pecado.
Por meio do primeiro nascimento, os homens são filhos da ira e estão sob o desprazer divino; (Eis o fato de não afirmarmos que Deus ama o ímpio)
No segundo nascimento, eles se tornam objetos do amor de Deus, sendo a regeneração o fruto e o efeito desse amor… Isso é coisa do alto!
2. Nascer do alto — assim poderia ser traduzida a expressão de João 3.3, 7. O apóstolo Tiago disse, de um modo geral, que toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto;
E a regeneração, sendo esse tipo de dádiva, deve vir do alto… “Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade” (Tg 1.17-18).
O autor desse nascimento é do alto; e os que nasceram de novo nasceram de Deus Pai, que está no céu. A graça concedida na regeneração vem de cima (Jo 3.27).
Assim são os nascidos de novo, pois eles são nascidos do alto, têm excelente nascimento, são participantes da vocação soberana e celestial de Deus, em Cristo Jesus, e certamente a possuirão (1 Pe 1.3-4
4. A regeneração é expressa por ser vivificado. Assim como há, na criação natural, um momento em que a vida passa a existir, na regeneração acontece o mesmo. “Ele vos deu vida” (Ef 2.1).
Antes da regeneração, os homens estão mortos, embora vivam; ainda que estejam fisicamente vivos, estão moralmente mortos;
Estão mortos em um sentido moral para as coisas espirituais, em todas as forças e capacidades de sua alma.
Não as conhecem, não têm afeição por elas, amor por elas ou poder de realizá-las, à semelhança de um homem morto em relação às coisas naturais.
Entretanto, na regeneração um princípio de vida espiritual é infundido no homem; é um tempo em que o Senhor lhes transmite vida e a produz neles. Cristo é a ressurreição e a vida neles.
[Ele] os ressuscita da morte do pecado para uma vida de graça. O espírito da vida de Cristo entra neles.
A regeneração é uma passagem da morte para a vida. É um princípio de vida espiritual implantado no coração, em conseqüência do qual um homem inspira um senso espiritual. Onde há fôlego, há vida.
Deus soprou em Adão o fôlego de vida, e este se tornou uma alma vivente, uma pessoa viva que, em resposta, respirou. Assim, o Espírito de Deus sopra em ossos secos, e eles vivem e passam a respirar.
O homem regenerado deseja intensamente o alimento espiritual; e isso demonstra que ele foi vivificado. Logo que uma criança nasce, ela procura o seio materno em busca de leite.
Assim, os recém-nascidos espirituais desejam o genuíno leite da Palavra, por meio do qual eles podem crescer.
Seus sentidos espirituais são exercitados em assuntos espirituais. Têm o que corresponde aos sensos da vida natural: o ver, o ouvir e, como já observamos, o sentir.
Eles sentem o fardo do pecado na consciência e as obras do Espírito de Deus em seu coração; e confiam em Cristo, a Palavra da vida — isso deixa evidente o fato de que estão vivos: um morto nada sente.
Têm uma inclinação espiritual, um deleite nas coisas espirituais; a Palavra de Cristo lhes é mais doce ao paladar do que o mel ou o favo de mel…
Eles provam que o Senhor é gracioso e convidam outros a provar e ver também quão bom Ele é.
Eles se deleitam com as coisas de Deus e não dos homens. Cristo e sua graça lhes são agradáveis… Estes sensos espirituais e o exercício deles… mostram que estão vivos, que nasceram de novo.
Essas pessoas levam uma vida de fé; vivem por fé, crescem no crescimento que vem de Deus; e isto é uma evidência de vida.
Resumindo, eles vivem uma vida nova, diferente da que tinham antes; não vivem mais para si mesmos ou para as paixões dos homens, e sim para Deus e para Cristo, que morreu e ressuscitou por eles. Andam em novidade de vida.
5. A regeneração é demonstrada pela formação de Cristo na pessoa convertida (Gl 4.19). A imagem dEle é gravada na regeneração; não a imagem do primeiro Adão, e sim a do segundo Adão.
Pois o novo homem é feito segundo a imagem dAquele que o criou de novo, é a imagem de Cristo. Os eleitos de Deus são predestinados a serem conformados a esta imagem; e isso acontece na regeneração (Rm 8.29; Cl 3.10).
As graças de Cristo — fé, esperança e amor — são produzidas no coração da pessoa regenerada e logo se tornam visíveis. Sim, o próprio Cristo vive neles.
O apóstolo Paulo disse: “Não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé” (Gl 2.20).
Cristo e o crente vivem mutuamente um no outro.
Como vimos no verso 3 de 1ª Pedro, ele bendiz a Deus pela sua misericórdia, do mesmo modo que Davi e Paulo bendisseram ( Ef 1:3; Sl 103:10).
Ele aponta a misericórdia de Deus como sendo a causa de uma nova esperança, ou seja, em primeira instância a fé e a esperança do crente estão em Deus ( 1Pe 1:21).
Com certeza aqueles cristãos foram, assim como nós somos consolados em saber que o Senhor nos deu vida, pertencemos a Ele e pela sua misericórdia nos reservou algo grandioso. Ler 1ª PE 1:3-9
Rendamos sempre graças por tão grande misericórdia. Amém!
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