quarta-feira, 26 de setembro de 2007

A sedução da indefinição doutrinária.

(Filipenses 1:27)
Em tempos de tanta confusão teológica por que passa a igreja cristã neste início do século XXI, não é aconselhável professar o cristianismo sem afirmar com clareza aquilo em que se crê.
A igreja de Cristo sempre foi uma igreja confessional, porque a genuinidade da nossa fé tem que ser evidenciada naquilo em que cremos e confessamos.
Temos que ter a ousadia de afirmar clara e abertamente e, de preferência, de forma escrita, as coisas em que cremos.
Reconheço que vivemos numa era que rejeita a noção credal ou confessional, mas esta posição tem que ser repensada.
Tantas são as heresias e as tentativas de assalto à fé genuína que tornam-se necessárias a formulação e a confissão daquilo em que cremos, para que a igreja, na sua inteireza, não venha a ficar perdida, lançada de um lado para outro por quaisquer ventos de doutrina.

Em todas as épocas os crentes foram chamados a expressar a sua fé de uma forma confessional.

É importante nos lembrarmos de que não é necessária a adesão a um credo para que uma pessoa se torne cristã, mas, uma vez cristã, a pessoa tem que confessar a sua fé. Essa confissão é, em algum grau, um credo.

É muito conhecida a história daquele rapaz que, ao atravessar uma ponte perigosa, começou a pedir a ajuda de Deus.

Mas, com medo de que o diabo o pudesse derrubar, começou também a pedir a ajuda dele, dizendo, na medida em que ia atravessando a ponte:
“Deus é bom, mas o diabo também não é ruim”.

Na vida cristã não é possível, conforme se costuma dizer, acender uma vela para Deus e outra para o diabo.
Precisamos de nos definir. As duas coisas não se conciliam.

Nosso assunto em questão, não se trata exatamente em optar por uma escolha entre Deus e o diabo, mas ter uma definição firme da fé e doutrina que uma vez abraçamos.

“As crenças firmes produzem caráter firme. Crenças bem definidas produzem também convicções bem definidas. Naturalmente, a crença doutrinária da pessoa não é sua religião, assim como a espinha dorsal do seu organismo não é a sua personalidade”.

Mas assim como uma boa espinha dorsal é parte essencial do corpo, assim um sistema definido de crença é uma parte essencial da religião. Alguém disse:

O homem não precisa expor a sua espinha dorsal, no entanto deve possuí-la para estar bem aprumado. Da mesma forma, o cristão precisa de uma definição doutrinária para não ser um cristão volúvel e até corcundo!”

O texto lido Filipenses 1:27 diz:
“vivei acima de tudo por modo digno do evangelho de Cristo, para que eu ou indo ver-vos ou estando ausente ouça no tocante a vós outros, que estais firmes em só espírito, como em uma só alma, lutando juntos pela fé Evangélica.”

O que Paulo espera dos Filipenses, mas também dos seus filhos;
1º) sua atitude para com Deus e com o evangelho deve ser a de tenacidade, que é apego afinco, perseverança,

Devem estar firmes no Senhor arraigados Nele, confiando nele amando-o, esperando nele aferrados às tradições, aos ensinos que receberam, a fé.

2º) Sua atitude de um para com outro deve ser a de harmonia.
A unidade que aqui se apresenta é a do esforço e a do labor unido lado a lado como os gladiadores, contra um inimigo comum.

Em FL 4:3 o apostolo fala daqueles que se esforçaram lado a lado com ele; Este esforço, contudo, não é apenas contra um inimigo, mas é também pela verdade do evangelho.

3º) sua atitude para com o inimigo deve ser de intrepidez;
Não deve ficar amedrontado a semelhança do cavalo tímido que se espanta a vista de um objeto inesperado;

Na presença dos adversários os filipenses deveriam revelar audaciosa coragem;

Nunca e nem por um momento se quer deveria permitir aquele medo que levou Pedro a ficar em cima do muro e negar ao Senhor.

Temos lutado Juntos pela fé evangélica, ou temos ficado em cima do muro seduzidos pela indefinição doutrinária.

- A NECESSIDADE DA DEFINIÇÃO DOUTRINÁRIA.

As Igrejas Reformadas sempre primaram pela elaboração de credos e confissões. É característica das mesmas serem confessionais. Com base nas afirmações confessionais da Escritura,

As Igrejas Reformadas viram a necessidade de possuírem uma identidade teológica.

E há algumas razões que tornam necessária a formulação de um credo: Que são as mesmas razões para alguém ter uma definição teológica.
1ª. A Natureza da Igreja
A igreja de Cristo não é simplesmente uma reunião de pessoas que coincidentemente pensam a mesma coisa. Elas devem pensar basicamente as mesmas coisas porque para elas existe um só padrão de referência que é a Santa Escritura.
A igreja de Cristo sempre foi confessante, porque a fé do coração deve ser expressa em proposições, em termos lúcidos, de forma que todos possam saber claramente em que a igreja crê.
Um credo deve ser a expressão exterior daquilo que a igreja crê interiormente. Ele é o produto da reflexão da igreja sobre a revelação divina.
"Quanto mais rica for a reflexão da igreja, mais pleno e mais profundo torna-se o tom de sua confissão." Um credo ou confissão sempre deve expressar o labor da igreja sob a orientação do Espírito Santo.”
Todavia, há uma outra razão para termos uma definição doutrinária
2- O Ataque de Outras Tradições Religiosas
Onde quer que o crente professe abertamente a sua fé, ele irá encontrar oposição. Quando mais definida em sua teologia, mais oposição ele receberá.
É importante observar que foi nos períodos de maior confrontação que a igreja mais produziu em termos de credos e confissões. Qual é a razão por que a igreja contemporânea não tem sido perseguida e atacada?
É porque ela tem deixado de ser definida teologicamente. Historicamente, todas as vezes que a igreja enfrentou oposição, ela se definiu.
Certamente, a igreja contemporânea haverá de enfrentar discriminação quando tiver definido os seus rumos teológicos de maneira inequívoca. Será que a igreja contemporânea está disposta a pagar esse preço?
Diante do que ouvimos sexta e sábado: a sedução de sermos como o mundo e a sedução da religião show, vemos que a igreja contemporânea (grande parte) caminha para um só lugar: a indefinição teológica.
A verdadeira igreja de Cristo tem que possuir um norte teológico a ser seguido; ela não pode permanecer neutra nas questões espirituais, éticas e morais. Ela tem que ser confessional para poder combater os inimigos teológicos. Do contrário, ficará desnorteada.
Uma outra razão que torna necessária a definição doutrinária na atualidade é:
3- O espírito do Tempo Presente
Vivemos num tempo muito diferente do período da Reforma, quando as confissões foram formuladas. Havia então muitos inimigos da fé protestante,
mas agora a situação é absolutamente diferente. Os protestantes não são tratados da mesma forma, e ninguém os tem atacado como aconteceu no passado.
Contudo, essa situação não dispensa a necessidade de termos uma definição doutrinária, pois é exatamente num tempo como o de hoje, de indefinição teológica, que se faz necessária a afirmação da verdade de forma objetiva.
O ambiente teológico atual é o de um pluralismo onde as pessoas fogem de verdades objetivamente afirmadas. Por isso temos que lutar juntos pela fé evangélica.
A fé reformada é uma tentativa justa e consistente de interpretar a Escritura de acordo com a própria Escritura.
Portanto, nós que fazemos parte de uma Igreja Reformada temos que reafirmar veementemente a fé que uma vez por todas nos foi entregue, da forma em que está interpretada pelos símbolos reformados de fé.
Uma outra razão que torna absolutamente necessária a afirmação objetiva da nossa fé é:
4- O Experiencialismo Vigente em Nossos Dias

O subjetivismo de nossa geração obriga a igreja a voltar aos padrões confessionais. Muitos evangélicos estão embarcando num experiencialismo desenfreado, onde os sentimentos têm sido a medida de todas as coisas,
Assim como no Iluminismo a razão tornou-se a medida de todas as coisas. Muitos ministros têm desprezado a verdade da Escritura e preferido as experiências místicas, que têm se tornado a sua "regra de fé."
O resultado disso é que a igreja evangélica no mundo tornou-se uma Babel teológica, onde ninguém consegue falar a mesma língua, porque não existe padrão objetivo de verdade em que se possa confiar.
No cristianismo atual não há paradigmas confiáveis. A ênfase está na subjetividade das opiniões que controlam todo o arcabouço teológico de muitos líderes espirituais,
os quais, com muita facilidade e maestria, controlam a mente e os sentimentos de "seus fiéis." É patente a necessidade uma definição teológica nos dias de hoje,
para que tenhamos um paradigma confiável baseado na totalidade da Palavra de Deus. (eis a grande importância dos credos e confissões).
Há mais uma razão a evidenciar a necessidade da definição Teológica. Trata-se de um problema específico de nossa geração:
5- A Influência do Pluralismo Religioso
A presente geração anda tateando às cegas, sem saber onde se apoiar. Tem sido ensinado nas escolas e, o que é mais desconcertante, em muitas igrejas da Europa, dos Estados Unidos e em algumas aqui do Brasil,
que as religiões não-cristãs são caminhos alternativos para Deus. Jesus não é o único modo de chegar-se a Deus. Alguns cristãos admitem que Jesus é até o melhor, mas não o único.
Por causa dessa filosofia religiosa, a verdade que foi pregada até o período pré-moderno não é mais a única. Não existe uma verdade na qual as pessoas possam confiar,
porque elas têm sido ensinadas que ninguém possui a verdade, e sim que as verdades dependem do ponto de vista de cada um. Há uma variedade de verdades, dependendo do gosto do freguês.
E, como não possuem discernimento espiritual, as pessoas andam desnorteadas.
Há uma última razão que torna necessária a reafirmação dos credos e confissões em nossos dias. Talvez esta seja a mais importante de todas, porque tem uma conotação positiva:
6. A Pureza da Doutrina
Escrevendo à igreja de Filipos, Paulo disse de maneira inequívoca que os irmãos deviam "lutar juntos pela fé evangélica" (Fp 1.27).
Essa fé mencionada por Paulo era o conjunto de verdades que os crentes haviam recebido dos apóstolos e que deviam preservar até mesmo ao custo de suas próprias vidas.
Esse espírito de união na luta pela fé deveria unir todos os cristãos.
Estes é que deveriam preservar a pureza da doutrina. Se os cristãos genuínos não fizerem isto, eles põem a perder todo o seu fundamento teológico.
A mesma idéia teve Judas, provavelmente o irmão do Senhor, quando escreveu aos seus leitores, exortando-os a batalharem "diligentemente pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos" (v. 3).
É responsabilidade nossa defender a fé, mas como defendê-la se não a temos afirmada e confessada?
A Escritura tem que ser entendida da maneira mais clara possível e este entendimento tem que ser afirmado confessionalmente, a fim de mostrarmos ao mundo aquilo em que cremos, sendo homens e mulheres teologicamente definidos.
Além disso, Judas diz que essa batalha tem que ser diligente, mostrando todo o nosso esforço na preservação da pureza da doutrina.
Na época em que Judas escreveu, o Novo Testamento ainda não havia sido reunido canônicamente. As verdades eram conhecidas dos crentes de um modo verbal.
Só um pouco mais tarde é que as cartas foram colecionadas. Judas, portanto, referia-se aos conceitos doutrinários que os crentes haviam recebido dos apóstolos e pelos quais deveriam batalhar diligentemente.
Eles não deviam permitir que a fé fosse deturpada, como alguns costumavam fazer (2 Pe 3.16).
A pureza da doutrina é uma questão prioritária e fundamental em todas as épocas, especialmente quando ela se encontra debaixo de tantos ataques.
Não há como preservar a pureza da doutrina de Deus se formos seduzidos pela indefinição Teológica ou doutrinária. (Fujamos dessa sedução)
Nós louvamos a Deus porque fazemos parte de uma igreja confessional, que adota as confissões e os credos; esses documentos que foram elaborados para serem úteis à vida da igreja.
Eles eram a confissão daquilo que estava no coração dos crentes; serviam para que os crentes se tornassem conhecidos na sociedade como seguidores de Jesus Cristo;
E serviam também para conduzir outras pessoas a Ele pela influência do seu testemunho.
Mas, poderíamos dizer de forma mais elaborada que:

Jesus Sempre quis que os Homens Fizessem uma Confissão Daquilo em que Criam
Sempre houve a necessidade de se confessar aquilo em que se crê.
Segundo Mt 16.15, Jesus perguntou aos seus discípulos: "Mas vós quem dizeis que eu sou?”.
Ele queria que os seus discípulos afirmassem sua posição com relação à sua pessoa. Todos nós temos que confessar Jesus, quem ele é, o que ele fez.
Talvez a primeira formulação de uma doutrina ou dogma cristão esteja relacionada com a resposta de Pedro: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo."
Obviamente, esta confissão de Pedro foi, posteriormente, expandida e melhor articulada.
A confissão é um elemento essencial da fé. Este princípio fundamental não pode ser negado, segundo a ensino do Novo Testamento.
Melanchton, uma das mentes mais brilhantes do tempo da Reforma, disse: "Nenhuma fé é firme se não é mostrada em confissão."
Não existe uma fé em Cristo que não se expresse em uma formulação doutrinária ou dogmática.
"Uma fé sem dogma, sem confissão, está continuamente em perigo de não mais saber o que realmente crê e, portanto, em perigo de cair ao nível de uma mera religiosidade."
Que Deus nos abençoe e nos ajude para não sermos levados como muitos pela sedução da indefinição Teológica ou doutrinária.
Amém!!!

Pr Davi Buriti
Adaptado do artigo de Heber Carlos de Campos
“A Relevância dos Credos e Confissões”

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